• Padre Oreste Benzi nos testemunhos de quem o encontrou

Textos extraídos de
CASADEI ELISABETTA (aos cuidados de), Padre Oreste Benzi irmão de todos, Effatà, Cantalupa (TO) 2017

Elisabetta Casadei é a Postuladora da Causa de Beatificação de padre Oreste Benzi

Mons. Francesco Lambiasi
Bispo de Rimini

chegou na diocese no dia 15 de setembro de 2007, 47 dias antes do «nascimento ao céu» de padre Oreste. Já bispo em Anagni-Alatri (1999-2001), Assistente geral da ação católica Italiana (2001-2007) e escritor conhecido.

O primeiro impacto

O primeiro encontro com padre Oreste ocorreu em 13 de março de 1999 em Anagni. Nós o convidamos para uma conferência realizada no seminário regional, do qual eu havia sido reitor.

“Padre Oreste” chegou pontualmente… atrasado e não sabia que alguns dias antes eu tinha sido nomeado bispo. Assim que lhe disseram, se ajoelhou diante das muitas pessoas que vieram ouvi-lo e me pediu a bênção.

A primeira sensação foi aquela de um padre devorado pela caridade, um homem excepcional por sua humanidade calorosa e envolvente, um cristão extraordinário por sua fé límpida e forte.

O que «invejo» em padre Oreste

De padre Oreste invejo o amor por Jesus. Esta foi a pedra angular de sua vida. Um amor “louco” que o tornava tenazmente apegado à oração, à missa que celebrava mesmo quando chegava em casa muito tarde de uma peregrinação. Via-se que nas profundezas do coração fluía como um rio cársico [Cársico, carso ou karst, também conhecido como relevo cárstico ou cársico, é um tipo de relevo geológico caracterizado pela dissolução química (corrosão) das rochas] – o diálogo com Jesus – que de vez enquanto emergia na superfície. Sentia-se que era um homem “cheio” de Deus.

Como mudou o meu ser padre…

Ele teve uma influência considerável em mim, porque me tornou mais sensível ao “espinho” dos pobres e mais atento em cultivar o relacionamento com o Senhor, uma relação preciosíssima e fragilíssima. Se tivesse que indicá-lo entre os meus modelos ideais de sacerdote, certamente estaria entre os três primeiros, porque era um sacerdote-sacerdote, totalmente entregue em um “abandono” incondicionado ao chamado, sem programas reservados, sem sonhos e projetos pessoais.

…e o meu ser cristão

Vi em padre Oreste a identificação entre ser «cristão» e ser «padre». O que era fundamental para ele era ser um discípulo apaixonado por seu doce Jesus e por sua Igreja. Sentia muito forte o sentido do batismo, que não sentia como um fator decorativo, marginal, mas um elemento central, fundador e portador. Muitas vezes digo aos nossos seminaristas e também aos nossos padres: «O difícil – e o belo! – não é tanto ser sacerdote, mas ser cristão». Para mim também, esse título de “excelência” parece-me realmente muito grande. A verdadeira excelência é aquela comum a todos, aquela do batismo. Não há outra particular.

Me tornou mais «padre»

Sempre vi nele um padre satisfeito. Um padre feliz como acontece quando o sentimento de paternidade e fraternidade é verdadeiro, forte.

A receita que dava contra a tristeza era sempre aquela de pensar aos outros e nos problemas dos outros, isto é, de «descentralizar-se», de «deixar-se habitar» pelos outros. Sinceramente: toda vez que penso nele e me espelho na sua santidade, me vejo muito distante do seu modelo. Porém, colho a beleza e o fascino do seu estilo de vida. Gostaria que ninguém lesse na minha face uma preocupação, muitas vezes insistente, que caia na tristeza. O sofrimento pode ser entendido no padre, assim como a tensão ou o cansaço. A tristeza não, nunca.

Padre Oreste era capaz também de enraivecer quando via as muitas injustiças contra os pobres, mas enraivecia de maneira evangélica, como Jesus. Em mim, invés, encontro algo bem diferente: a minha raiva é o desabafo do meu orgulho ferido e o efeito de alguma ferida que queima dentro de mim.

 … e me ajudou a sentir-me «filho» da Igreja de Rimini

Desejei ser filho espiritual de um padre como padre Oreste. De fato, ele me ajudou a sentir-me «filho» e «irmão» desta bela Igreja de Rimini. Quando soube da minha nomeação como bispo de Rimini me telefonou e as palavras que me disse, como se fosse quase um pacto recíproco, foram: «Venha! Não temas! Te ajudarei». Palavras que depois – apenas 40 dias depois – me causaram uma amargura violenta quando naquela manhã do dia 2 de novembro de 2007 me encontrei diante do seu corpo. Mas imediatamente senti uma grande paz que me veio de uma segurança invencível: que ele era e continua sendo capaz de manter a sua promessa. Em muitas passagens da vida me vem não só de senti-lo perto, mas de conversar com ele e dizer-lhe: «padre Oreste, agora você precisa me ajudar, mas quero ver como você consegue».

Extraído do dialogo com a postuladora,
30 de setembro de 2016

Mons. Santo Marcianò

Ordinariado Militar da Itália (2013) e já bispo de Rossano-Cariati (2006-2013).

Um jovem que falava aos jovens! É a primeira imagem que tenho de padre Oreste Benzi e penso que seja uma imagem que o representa com bastante fidelidade. O conheci quando, como reitor do seminário e diretor do escritório de vocações diocesanas, o convidei em Reggio Calabria para uma jornada diocesana dos jovens, para oferecer a eles, juntamente com as reflexões e a festa, o forte testemunho de uma vida dedicada à evangelização e ao serviço dos últimos, dos pobres, dos pequenos.

Foi um testemunho luminoso e iluminante, particularmente centrado no trabalho de recuperação das mulheres que vivem na prostituição, cujo destino inquietava a vida, os dias e as noites de padre Oreste.

«Você dormiria tranquilo (a) se fosse tua irmã? ». O seu grito do palco, diante de uma praça cheia de adolescentes e jovens, atravessou a escuridão daquela noite e as luzes daquela festa. Sobretudo, tinha impressionado o coração dos jovens – e não só -, oferecendo um vislumbre daquela que se é sempre mais confirmada a particularidade da santidade de padre Benzi: crer firmemente que, com a ajuda de Deus, não há nada de irrecuperável, de impossível, muito arriscado.

E que, se tivessem riscos – e penso que ele correu realmente muitos riscos… – vale sempre a pena arriscar: para salvar uma irmã ou um irmão, para dar uma família a uma criança abandonada e sozinha, para não perder a ocasião de demonstrar a Deus, com a coragem e a fantasia da caridade, a medida da própria fé e esperança.

A estrada, as periferias, os excluídos… As palavras com as quais papa Francisco nos coloca em discussão hoje foram os gestos com os quais padre Oreste nos colocou em discussão ontem. Gestos fecundos, que permanecem á extraordinária experiência da Comunidade João XXIII: no amor «maior» daquelas pessoas, sobretudo, daquelas famílias que abrem as portas, o coração e a vida às vidas mais rejeitadas, àqueles que ninguém quer, vivendo de sobriedade alegre, de comunhão e oração, e assumindo muitos sofrimentos humanos, na simplicidade oculta do quotidiano.

Um carisma maravilhoso, aquele da «Papa João», que já quando eu era bispo de Rossano-Cariati, tinha acolhido com alegria como riqueza para a diocese e ainda hoje continuo a compartilhar, acompanhando o caminho de muitos amigos e irmãos.

Um carisma maravilhoso, aquele de padre Oreste Benzi, capaz de alcançar todos e provocar, hoje como ontem, uma revolução do amor, a única resposta evangélica à cultura da morte e à globalização da indiferença. Para ativar esta revolução, Deus chamou um revolucionário: um homem com um passo de gigante, com um coração imenso, com uma voz imponente… Um jovem que falava aos jovens, mas que sempre permaneceu uma criança entusiasmada, transparente, temerária: um menino confiante e alegre nos braços de Deus.

† Santo Marciano Arcebispo Militar para a Itália
Extraído da Carta à postuladora,
11 de março de 2017

Mons. Vincenzo Paglia

Presidente da Pontifícia Academia para a Vida, secretário do Pontifício Instituto João Paulo II e presidente da Federação Bíblica Católica Internacional. Ex-Presidente do Pontifício Conselho para a Família (2012-2016) e Bispo de Temi (2000-2013).

Conheci padre Oreste em uma conferência dos operadores da caridade promovida pela Conferência Episcopal Italiana. A sua figura se impunha por um lado pela simplicidade que passava pela sua “famosa” túnica “surrada” à paixão mais radical para colocar os pobres no centro da Igreja. Esse contraste, ou melhor, essa ligação, entre a simplicidade em se apresentar e o fogo que irradiava, impressionava todos aqueles que o encontrava.

A recordação que tenho dele é aquela de uma figura que mostrava a força e a beleza da Igreja do Concílio Vaticano II: de qualquer modo, ele expressava visualmente e concretamente, sem falsas aparências, o coração da misericórdia.

Com a sua pessoa, padre Benzi mostrava aquele incipit do Concílio (e, portanto, João XXIII), que mostrava uma Igreja que tinha escolhido a medicina da misericórdia como dimensão primária da Igreja. Nesse sentido, padre Oreste era verdadeiramente um padre conciliar e encontra uma extraordinária harmonia com Papa Francisco, que continua nesta linha iniciada com Papa João XXIII e que atravessou muitas testemunhas, inclusive certamente padre Oreste Benzi.

Recordo que uma das coisas mais belas que nos dissemos era sobre a sua paixão pelo testemunho. Me dizia que a caridade deve ser vivida antes de ser dita; deve ser  testemunhada, para chegar até no coração. E não é que lhe mancassem as palavras para falar sobre a caridade ou para propô-la. Me dizia: «devemos mostrar a caridade: devemos acolher as crianças, ir onde estão as meninas exploradas com a prostituição».

Uma coisa que mais me impressionou era aquela da comunidade como a medicina mais bela para curar tudo; em particular, a família, entendida em maneira ampla, que depois era o sentido da Igreja como família que acolhe. Esta foi uma das conversas que tivemos e que fez «nascer uma simpatia».

Sou totalmente favorável ao fato que tenha sido aberta a Causa de beatificação, porque padre  Oreste na sua figura reúne aquela dimensão do amor do qual hoje temos uma extrema necessidade. Que figuras como a sua podem ser mostradas também em modo oficial, creio que seja particularmente necessário, porque tem algo, uma dimensão de universalidade do amor, que padre Benzi mostra com a sua vida simples e ao mesmo tempo universal.

Um processo de beatificação não visa afastar padre Benzi de nós para colocá-lo mais no alto, mas fazer descer a sua semente, semear o seu testemunho o mais amplamente possível

Extraído da entrevista feita à postuladora,
5 de janeiro de 2017

Mons. Matteo Maria Zuppi

Arcebispo de Bolonha (2015) – Ex- bispo auxiliar de Roma (2012-2015), pároco e assistente eclesiástico geral da Comunidade de Santo Egídio, pela qual foi também mediador pela paz em Moçambique (1992).

Conheci padre Oreste em várias ocasiões públicas e de alguns “empenhos de estrada” – digamos assim- relacionados às suas iniciativas em favor das pessoas mais fracas, com a Comunidade de Sant’Egidio à qual pertenço; além disso, em algumas reuniões comuns, como por exemplo no Pontifício Conselho para os Leigos.

O que mais me impressionou em padre Benzi é a mansidão e a determinação. Ele era um homem manso, muito respeitoso, sorridente, mas ao mesmo tempo com a determinação que nascia da sua convicção.  Manso com todos, respeitoso com todos, mas também firme em seus ideais.

Ele era um padre «antigo» e ao mesmo tempo assim atento à realidade; nunca deixou de questionar-se sobre os sinais dos tempos e sobre aqueles sinais dos tempos que são os pobres, os fracos. Partindo justamente deles soube entender muitas mudanças no mundo.

A lembrança mais forte que tenho é a sua convicção de que tudo é possível, que a fé faz milagres; enquanto a resignação te faz acreditar que tudo é inútil, ele vivia invés, com a convicção que a fé faz milagres e o vivia com facilidade, que podia até ser confundida por superficialidade ou ingenuidade.

Fico feliz que a causa da beatificação foi aberta; além do processo, sabemos quanto bem foi semeado. Muitos encontram em padre Oreste um exemplo, um encorajamento. Qualquer que seja o êxito do processo já vemos muitos frutos de sua santidade.

Na Igreja de Bolonha, por exemplo, é muito lembrado; não apenas por aqueles que vivem o carisma – os membros da Comunidade Papa João XXIII – mas por muitos que vivem seus ensinamentos e são encorajados por seu testemunho.

Extraído da entrevista feita pela postuladora,
30 de dezembro de 2016

Don Luigi Ciotti

Fundador do Grupo Abele para a recuperação das dependências (1973) e da Associação Libera contra as violências das máfias e da cultura mafiosa (1995). Ele quis ser presente no funeral de padre Oreste.

Conheci padre Oreste no final dos anos 1970, quando acontecia que eu ia frequentemente em Rimini, convidado pela diocese e por monsenhor Giovanni Locatelli, para encontros sobre o tema das drogas e das dependências. Um problema que estava assumindo dimensões sempre maiores e preocupantes e que padre Oreste queria entender, aprofundar, para ajudar muitas pessoas, sobretudo, os jovens, que eram as vítimas.

Recordo alguns encontros com ele e com alguns dos seus colaboradores, e ali toquei com as mãos a grande paixão e generosidade de padre Oreste.

Era um homem de grande fé, animado pela autêntica, concreta atenção pelos pobres e pelos últimos, acolheu, muitos dos quais, nas casas-famílias realizadas em anos de empenho, espaços de relação e dignidade.

Foi um apaixonado por Deus, um tenaz portador de esperança.

Me acontece de pensar nele e de recordá-lo: padre Oreste, de fato, era uma presença «que causava  incomodo», fascinava, atraia, deixava sempre um sinal. E este seu ser permanece no coração, nas consciências e na oração.

Peço-lhe de «rezar» por nós. De nos ajudar a prosseguir com sempre mais força na direção daquele objetivo que, seja com estilos e métodos diferentes, ambos perseguimos: a liberdade e a dignidade das pessoas.

Extraído da Carta à postuladora,
29 de Março de 2017

Ernesto Olivero

Fundador do Serming (Serviço Missionário da Juventude) de Turim, juntamente com sua esposa Maria Cerrato, para realizar o «sonho» de eliminar a fome e construir a paz, dando aos jovens um grande ideal de vida (1964). Daqui nasce o “Arsenale della Pace” (I983): 45.000 metros quadrados que acolhem pobres de todos os tipos. Mediador da paz na Itália e no mundo e escritor conhecido.

Nos encontramos algumas vezes em algumas conferências e logo me suscitava simpatia. Era o único padre, entre aqueles «famosos», com o qual me confessaria e a quem teria dado toda a minha carteira. Era um simples cristão e somente um simples cristão chega a fazer as coisas que ele fez; por isso, se via uma mulher perdida procurava não redimi-la, mas ajudá-la a entrar em outra dimensão. A santidade para mim é esta; todo o resto, as coisas exibicionistas não tocam as pessoas e ele não era certamente exibicionista. As coisas verdadeiras são simples e padre Oreste era simples, não era complicado, ele não falava a caso, mas vivia aquilo que dizia.

Padre Oreste era um cristão verdadeiro: um contemplativo e um homem de ação.

A Igreja já deveria ter feito dele um santo, porque as suas ações falam por ele.

Extraído da entrevista feita à postuladora,
11 de julho de 2016

Giorgio Rastelli

Um dos «jovens de 1949». Aposentado. Era um bancário.

Era o ano 1984 e comemorávamos o 35º aniversário da ordenação sacerdotal do nosso grande amigo Padre Oreste Benzi. Algumas daquelas moças e alguns daqueles rapazes que tiveram a sorte de encontrar a sua obra pastoral quando era capelão em 1949, pensaram de festejar aquele evento na igreja de San Nicolò al Porto, onde ele tinha iniciado seu ministério sacerdotal. O encontro foi marcado para um domingo de abril e transcorremos uma jornada belíssima com lembranças belíssimas: não parecia verdade o reencontro de todos juntos, como nos tempos da infância e da adolescência, com o nosso primeiro padre espiritual.

Alguns dias depois desta belíssima jornada, uma das pessoas que tinha participado me procurou dizendo-me que queria fazer uma oferta a padre Oreste. Querendo permanecer anônimo me perguntou se eu fosse disponível a ser o intermediário. Dei-lhe o consentimento. Alguns dias depois, o amigo me deu um cheque de cinco milhões de liras no nome de padre Oreste. Visto o valor do cheque peguei a bicicleta e fui à paróquia da Resurrezione com poucas esperanças de encontrar padre Oreste; invés, com minha grande surpresa, diante da porta da entrada da Igreja, encontrei o nosso grande amigo. Quando me viu me perguntou: «Giorgio, o que você está fazendo aqui?». Respondi-lhe: «vim te procurar». Eu, de fato, de vez enquanto ia à Missa na paróquia da Resurrezione no sábado à tarde. Imediatamente lhe disse que tinham me dado um cheque como oferta para as suas atividades. Depois de ter visto o valor do cheque, chamou algumas pessoas que estavam no átrio, mostrou o cheque e disse: «Vocês não vão acreditar, mas ontem me telefonaram da missão que temos na Zâmbia, pedindo-me de enviar 5 milhões para construir um poço!».

Mensagem à postuladora,
21 de novembro de 2016

Daniele Gori

Riminese (1968), fez os votos de pobreza, castidade e obediência na comunidade Papa João XXIII. Vai aonde precisar dele: casas-famílias, cabanas de Belém onde abrigam os sem-teto, no meio dos ciganos, nas casas de primeira acolhida para as prostitutas, para os prófugos…

Tenho 49 anos, sou um eletricista, mas trabalhei na peixaria da minha família. Eu era noivo e não frequentava a igreja.

Um dia, sofri um grave acidente que me obrigou a permanecer na cama por alguns meses: naquele momento me questionei sobre o meu futuro, porque podia ficar em uma cadeira de rodas para sempre, e sobre o significado da minha vida. Comecei a ler o evangelho e dia após dia meu coração mudava. Tive uma forte experiência do Senhor e ali nasceu em mim o desejo de viver somente por Jesus. Pela “estrada” encontrei a Comunidade Papa João XXIII, aonde até os mais desgraçados, aqueles que chegam de qualquer experiência e em qualquer estado de vida podem viver o evangelho.

Daqui nasce o meu encontro com padre Oreste, apaixonado por Cristo, que tornou possível a realização deste meu desejo: poder acolher na própria casa, também a qualquer hora da noite, mulheres escravizadas na prostituição que fogem dos seus «protetores»; pessoas sem morada fixa; mulheres sozinhas com seus filhos que não tem onde ir; viver com uma família de ciganos no próprio jardim, ou pessoas com deficiência física ou psíquica que seriam hospitalizadas a vida inteira.

Quantas vezes padre Oreste ti «incomodava» para te pedir de fazer uma acolhida e aquelas que ele te fazia eram difíceis! Quando devia te pedir alguma coisa realmente dura, o telefonema começava assim: «Olá Daniele, como você está com o Senhor?». «Ah… bem, obrigado, agora porém um pouco preocupado…».

Quantos momentos belos e quantas risadas com padre Oreste! O belo era que ele sentia prazer por aquilo que fazia, sentia prazer interiormente e depois não desperdiçava nem mesmo um momento da sua existência.

Ele deveria se tornar santo imediatamente, porque ele permaneceu fiel até o fim; porque teve medo, mas superou o medo por um amor maior; porque permanecia em pé estando de joelho; porque (por escolha) acolhia todos com alegria; porque se relacionava do mesmo modo seja quando falava com um ministro que quando falava com um mendigo; porque te indicava a estrada, a vontade de Deus na tua vida; porque ele fez os milagres quando estava vivo.

Extraído da carta à postuladora
21 de novembro de 2016

Alberto Capannini

Riminese, criador da Operação Pomba Branca, uma ação de civis que por livre escolha vão viver em zonas de guerra com as populações ameaçadas, para organizar proteções não violentas (interposição, apoio, denúncia, reconciliação). Viveu nos Bálcãs, Congo e Sul da África, Chiapas, Chechênia, Palestina, Colômbia, Timor Est, Indonésia e, nos últimos 3 anos, no Líbano nos campos prófugos. É casado e papai e 3 filhos.

Encontrei pela primeira vez padre Oreste aos 18 anos, em um encontro organizado pela ação Católica da qual fazia parte e me impressionou profundamente uma sua frase: «Quando morrermos Deus não nos julgará, mas os pobres sim» e dentro de mim me disse: «eu devo conhecer esta pessoa!». Tinha uma paixão quando falava que a mim parecia uma poesia.

Depois de alguns anos, escolhi de fazer o serviço civil na Comunidade Papa João XXIII, que me levou depois a dar vida à «Operação Pomba Branca». Inspirado também por Martin Luther King, via na não violência o mesmo coração do Evangelho: um amor que resiste também à violência e à morte, como aquele de Jesus, mas não sabia como concretizar este sonho.

A «Operação Pomba Branca» foi realizada por este desejo que tinha no coração desde quando era um menino e ela se compõe de 3 ingredientes: a compartilha, que aos membros de outras religiões que encontramos explicamos com esta frase: «a minha vida vale como aquela dos outros»; a não violência, como forma de amor ao próximo, muito mais extremo que o ódio; e a reconciliação, como forma de cura.

Padre Oreste era uma pessoa muito acolhedora, sorria sempre: também quando viajava e recebia mil telefonemas por situações difíceis, ele tinha sempre aquele sorriso de «leveza», como aquele de uma criança; por quanto fosse grande o problema, nunca era grande demais ao ponto de faze-lo perder a esperança, o bom humor. A sua fé era simples e também a sua oração era como aquela de uma criança: «Jesus, eu e o Senhor, hoje, sempre juntos!».

Padre Oreste era capaz de te surpreender: se te parecia de ter pensado uma coisa impossível, ele, mais velho que nós, conseguia sempre pensar uma ainda maior.

Se ser «santos» significa ser uma pessoa cheia de Deus, que indica uma direção de vida e é capaz de extrair o melhor (e não a parte pior) presente em ti, devo dizer que padre Oreste é um deles!

Extraída da entrevista feita à postuladora,
15 de dezembro de 2016

Angela Guardabascio

Nasceu em Forlì (1958), casada e mamãe de Valentina. Se dedica às pessoas sem morada fixa.

Conheci o amado padre Oreste em 1980, exatamente no dia 8 de dezembro, festa da Imaculada Conceição. Eu não era tão imaculada, me sentia suja e mesmo com apenas 22 anos, morta! Meus pais me colocaram no carro, eu nem mesmo caminhava mais, devastada pela abstinência e astenia, pesava trinta e sete quilos.

Procuravam desesperadamente chegar a San Patrignano, pois o nosso médico tinha dito que ali tinha um homem que recolhia os jovens drogados.

Andávamos por Rimini sem saber para onde ir ou a quem pedir informações. Aqueles, para minha família, foram dias de vergonha, desespero, senso de culpa e de impotência; para mim só vontade de morrer.

Na tentativa de pedir algumas informações, encontramos uma freira, que mais tarde descobrimos ser a diretora do jardim de infância paroquial da Grotta Rosa. Quando meu pai viu aquela freira se encorajou, pode ser que aquele véu acendeu a esperança, nos disse que não conhecia San Patrignano, mas se quiséssemos segui-la, nos conduziria a um sacerdote que ajudava todo mundo. E, deste encontro totalmente casual, conheci padre Oreste pela primeira vez. Saia da Missa que tinha acabado de celebrar, veio ao meu encontro com seu sorriso maravilhoso e de braços abertos. Me chamou de “Saraghina” [peixe fino.] E me olhou nos olhos.

Eram 2 anos que olhava somente pro chão e caminhava perto das paredes na louca esperança de torna-me transparente, sentia assim tanto nojo de mim mesma, me sentia vazia, o pensamento fixo de encontrar a coragem de acabar com a minha vida.

Nunca me falou sobre drogas, desvio, pecado, arrependimento, redenção, nunca! Me falou sempre e somente de amor, confiança e de esperança. E de grande profeta que era e é, de mim tinha entendido tudo. E logo abriu a porta como se fosse a coisa mais normal do mundo, me ofereceu tudo o que tinha: a esperança, a sua vida, aquilo que tinha construído com outros irmãos.

Me ofereceu a comunidade inteira, afim que encontrasse aquilo que em vão tinha procurado: a resposta estava ali, nas casas-famílias, nos jovens que deixavam tudo: estudo, família, trabalho, para se tornar pai e mãe de doidos, drogados, assassinos, ciganos, ladrões, mendigos.

Esta foi a verdadeira terapia, padre Oreste tinha entendido logo que a minha salvação passaria somente dali; poderia apaixonar-me por mim mesma somente aprendendo a amar quem estava ao meu redor.

Provavelmente estou para dizer uma blasfêmia, a minha fé não é tenaz como eu gostaria, aliás, mas a certeza da santidade de padre Oreste é cega, eu nunca juro, não duvidei nem mesmo por um momento disso. Padre Oreste conseguiu me apresentar Jesus e me ajudar a fazer amizade com ele, também se o caminho é ainda muito longo.

Padre Oreste deu dignidade a todos aqueles que encontrou, pois o homem feito a semelhança de Deus era a única coisa que lhe interessava na vida: porque em cada um encontrava Deus e você sentia que quando te olhava você era único; e logo que olhava um outro irmão, também ele era único, porque todos eram únicos aos seus olhos, sem nenhuma distinção entre fracos e potentes, somente que envolvia o fraco com uma ternura toda particular, capaz de curar também o coração mais desolado.

Todo ano, até a sua morte, no dia 8 de dezembro eu telefonava para ele para lhe recordar o aniversário do nosso primeiro encontro e ele, miraculosamente, me respondia e se recordava. Continuo ainda agora a ligar para ele, também se responde uma mensagem automática dizendo que o número é inacessível, mas tenho certeza que ele sabe e sorri.

Poderia escrever um livro sobre tudo aquilo que vivi com padre Oreste, sobre muitas aventuras divertidas, sobre o tempo que passamos juntos entre viagens, encontros, etc.. Porque não teve momento em que não tenha me ensinado algo: os mantenho todos guardados dentro de mim como uma riqueza inestimável.

Poucos dias antes da sua morte, minha filha menor Valentina, que na época tinha 7 anos, sonhou padre Oreste que, como Mary Poppins, voava no céu com a sua túnica, sobre um guarda-chuva sorrindo para todos nós: gosto muito dessa imagem e muitas vezes o imagino assim.

Espero somente que lá de cima me perdoe e continue a amar-me.

Extraído da Carta à postuladora,
16 de janeiro de 2016

Dott. Amedeo Brici

Riminese, nascido em 1926 e amigo de padre Oreste. Se conheceram em 1938, quando padre Oreste ainda era seminarista e a amizade deles se consolidou sempre mais. Casado e médico cirurgião no hospital Santarcangelo em Rimini.

Testemunho inédito

Embora profundamente devoto a Nossa Senhora, padre Oreste nunca tinha ido a Lourdes.

Aos 81 anos organiza esta peregrinação nos dias 5 ao 9 de setembro de 2006 e leva a Lourdes mais de mil peregrinos, viajaram com o trem, com o avião, com o ônibus ou com carro próprio.

Na peregrinação participou também nosso genro: M. B. acompanhado pela esposa e pelos filhos; M. tinha uma grave forma de tumor que tinha se difundido em grande parte no abdome. Ao retorno em casa, contou este episódio relativo a padre Oreste:

«Estávamos na praça da Gruta, comigo  E., D., C. e L.; padre Oreste nos viu e veio nos saudar.  Era presente também padre Sisto. Estávamos aguardando a Santa Missa e padre Oreste me levou para perto da Gruta de Nossa Senhora dizendo-me: “Vem comigo”. Paramos ali em oração: eu, ajoelhado, estava à direita de padre Oreste, ele colocou a sua mão direita sobre a minha cabeça; padre Sisto estava à esquerda. Estávamos ainda em oração quando vieram chamar padre Oreste e tiveram que chamá-lo ainda 3 vezes dizendo-lhe que era a hora da Missa; padre Oreste não respondia, era absorvido e olhava fixo Nossa Senhora. Quando o chamaram de novo é como se tivesse se despertado e se dirigiu a mim dizendo-me: “vi o Paraíso; agora posso também morrer”. Depois junto com padre Sisto foram se preparar para a Santa Missa».

Achei apropriado relatar esse episódio como foi descrito por M. B., também se as verdadeiras testemunhas, padre Sisto e M. B., vivem já uma Vida que não conhece o pôr do sol.

Extraído do arquivo da postuladora

Para comunicar graças e favores recebidos por intercessão do Servo de Deus padre Oreste Benzi, escrever à

Postuladora Elisabetta Casadei
Postulazione Causa di canonizzazione don Oreste Benzi
Via Cairoli, 69 – 47923 Rimini (RN)
T. +39 349 3237566
infocentromarvelli@gmail.com